Crianças no condomínio: os dois lados da mesa

De um lado da mesa os adultos. Do outro as crianças. Os adultos dizem: “o barulho de vocês nos incomoda”. E, as crianças contestam: “e vocês são menos barulhentos que nós?”

A maioria de nós, adultos e crianças, são muito barulhentas. Há adultos que não respeitam limites, há crianças que não respeitam regras. Nosso tema de hoje é ‘a possibilidade da boa convivência entre adultos e crianças na vida em Condomínio’.

Escrevo para vocês como Psicólogo e também como pai. Começo pelos deveres: as regras são para todos. As crianças não podem estar fora de qualquer regra do condomínio. É assim que elas compreenderão o seu papel social e a sua capacidade de colaborar para o bem comum. No entanto, aqui há um detalhe muito importante: não existem crianças desrespeitosas de regras sem que pelo menos um dos seus pais também o sejam.

No meu dia a dia de consultório tenho um grande desafio quando recebo os filhos para atendimento: alguns pais me falam que ‘lá em casa todo mundo convive bem com exceção do meu filho (minha filha). Com isso estão me afirmando: ‘nós estamos bem, quem precisa de ajuda é ele (ela)’.

Para que melhor compreendamos quais são os deveres dos adultos é interessante reconhecer: o seu filho mostra aquilo que você não quer ver de você mesmo. Por vezes os filhos dos outros também. Assim, as crianças precisam de obediência para cumprirem seus deveres e os adultos coragem e humildade para olharem para si mesmos.

Regras claras e abertura ao diálogo ajudam para que todos cumpram seus deveres e compreendam os benefícios disso.

Depois, sempre depois, em especial numa vida em condomínio, estão os direitos: das crianças o direito principalmente ao amadurecimento. E, isso acontece através do brincar e da espontaneidade. Se a criança não pode falar e mover o seu corpo com liberdade ela não poderá elaborar suas frustrações, seus dilemas familiares e melhor lidar com seus medos, sua ira e com aqueles a quem ama.

Dos adultos o direito é de descansar, manter o ambiente em comum em ordem, limpo, usufruir do silêncio. É assim que adultos e crianças treinam a capacidade de colaboração mútua. Aliás, vale lembrar dos lares onde os familiares se dão o tempo para se reunir e partilhar sobre como foi o dia para todos: são famílias com mais oportunidades de uma melhor convivência. Nos condomínios uma possibilidade disso acontecer é o síndico mirim. Se bem conduzido pelos adultos, costuma trazer bons resultados.

Por último e certamente menos simpático, a terceira solução: quem escolhe viver em condomínio necessita estar disposto a aprender a conviver com as diferenças. São dezenas, centenas e, em grandes condomínios, milhares de pessoas e culturas familiares. Idosos, adultos e crianças (algumas delas com dificuldades motoras e psíquicas). Portanto, para as pessoas que a convivência com as crianças é insuportável, o melhor a fazer é sair da vida em condomínio.

Divido com vocês uma coisa que aprendi com a comunidade Franciscana ao qual tenho uma larga convivência: todo o ambiente franciscano tem flores. Acreditam eles que isto é fundamental para um ambiente mais alegre. Creio que as crianças fazem o papel das flores nos condomínios.